segunda-feira, 4 de abril de 2011

A concha do conhecimento

Socializar o conhecimento tácito é a primeira etapa da criação de conhecimento, tal como foi codificada pelo professor Ikujiro Nonaka. Antes disso, é inútil pensar ser possível seguir as três etapas sucessivas de seu modelo SECI: a Expressão, a Combinação e, finalmente, a Integração de novos conhecimentos. Como seu nome indica, nessa fase inicial a dimensão humana, social e relacional é fundamental. Ela desenvolve-se no contexto do conceito bem japonês de Ba, definido por Nonaka como um “espaço compartilhado em movimento”, e que propomos traduzir por “comunidade de conhecimento”.

Uma comunidade de conhecimento reúne, sobre a base de um interesse comum, atores de naturezas diferentes, de dentro e de fora da empresa, em uma estratégia de produção de conhecimentos operacionais que sirvam a todos os participantes. Esse espaço relacional pode ser físico, virtual ou híbrido e seus componentes concordam, de forma implícita ou explícita, quanto à necessidade de cooperarem para transporem juntos uma fronteira de conhecimento que pode se revelar tão concreta como as características de um produto ou de um serviço existente ou a ser criado.

Mais do que recensear o que é conhecido, o objetivo da socialização consiste em trazer à tona elementos até então não valorizados, nem formalizados e que provêm dessa dimensão tácita crucial para a criação de novos conhecimentos. Para Nonaka, é como se esses elementos estivessem aprisionados na gravitação de práticas individuais não consideradas. Para libertá-los dessa gravidade em que estão encerrados, é necessário estabelecer condições favoráveis que lhes permitam expressão, e a energia reunida para fazer esse foguete decolar vem de relações de confiança sem as quais nada pode ser esperado.

Nessa primeira fase do processo SECI, o objetivo da empresa não é o de captar ou o de verificar hipóteses ou informações que ela já conhece. Mas é de demonstrar dentro dos Ba atenção, disponibilidade e uma grande abertura de espírito ao ponto de parecer não ter expectativas particulares. Querer buscar, de forma invasiva junto a clientes, informações precisas sobre suas opiniões, suas representações, suas expectativas, seus conhecimentos, suas repulsas… terminaria por esterilizar a criatividade desse espaço compartilhado. Equivaleria a incitar uma ostra a se fechar. Uma concha precisa de um ambiente confiável e nutritivo para se abrir; assim que percebe intenções estranhas ela se fecha, e é isso o que deve ser evitado.

Uma comunidade de conhecimento funciona porque é animada por um interesse, por uma bússola que abrange e que excede a necessidade da empresa que participa de seu movimento. Não se trata de uma comunidade de prática que reúne, sobre uma base explícita, profissionais preocupados em compartilhar e melhorar suas competências. Essa distinção é importante. No modelo de Nonaka, ao servir a uma causa que a transcende é que a empresa serve ao seu interesse particular. Dessa forma, ela contribui dentro de uma comunidade orientada para enriquecer os conhecimentos operacionais do conjunto de seus membros cuja heterogeneidade é unificada pelo objetivo comum.

As palavras-chave dessa socialização são empatia e implicação plena ao modo samurai aqui e agora. Somente uma empatia verdadeira permite que “a concha do conhecimento tácito” se abra com confiança até manifestar elementos de que talvez nem tenha consciência. Essa alquimia, essa transformação qualitativa, no sentido asiático do termo, socializa um conhecimento tácito por meio de uma dinâmica de interações contínuas entre pontos de vista, experiências e competências diferentes mas que se encontram em uma mesma causa.

O sentido da implicação plena é um valor bem japonês; ela é absoluta e dedicada. Que isso aconteça em presença ou à distância, convém ser participativo com sinceridade e amor, segundo as próprias palavras de Nonaka, e também evitar a prioris que possam incitar a concha a se fechar. Assim, os funcionários de uma empresa participam de atividades em que seus produtos e serviços são apresentados, vendidos, utilizados, e mesmo, criticados. Isso pode acontecer em pontos de vendas, por meio de relações com redes de distribuição, fornecedores, comunidades de clientes e usuários, sites, internet… enfim, junto a todos os que estão em contato com suas prestações no mercado. Até concorrentes podem ser chamados a contribuir nesse movimento, incumbindo a empresa de assegurar um tempo de avanço no uso inovador dos conhecimentos criados.

Poderíamos dizer que essa primeira fase do modelo SECI preocupa-se mais com questões e incógnitas do que com a gestão de conhecimentos adquiridos. Sua perspectiva é fundamentalmente inovadora; não considera que tudo é conhecido e que nada possa ser aperfeiçoado, otimizado ou introduzido como novidade. Mais do que aplicar um método de socialização, trata-se de implicar-se com franqueza e lealdade a serviço da emergência de um conhecimento nascido das interações.

O conhecimento criado por meio do modelo SECI, de Nonaka, pode trazer um avanço temporal e operacional para a empresa que deve se traduzir de forma concreta. Ele possibilita a posição em situação vantajosa porque é mais justo, em harmonia dinâmica com a formulação de novas necessidades ou de redefinição das antigas. Como no combate entre dois samurais, aquele que sobrevive é o mais justo, pois o perdedor não está mais lá para constatar que se enganou ou que se confinou em uma representação ultrapassada. A mobilização em comunidades de conhecimento não é uma dançarina, um luxo ou um capricho para a empresa. Ela impõe-se como uma necessidade estratégica que deve estimular todos os seus membros, pois dela depende sua sobrevivência!

*. Por: Pierre Fayard é professor titular da Universidade de Poitiers, França, e atual Consul de Cooperação e Ação Cultural na Embaixada da França no Peru. É diretor do Centro franco-brasileiro de Documentação Técnica e Cientifica (CenDoTeC). O Ph.D estará no Brasil em outubro para participar do 10º Congresso Brasileiro de Gestão do Conhecimento (KM Brasil 2011) [www.sbgc.org.br].

SBGC -Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento - Fundada em 2001, a SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento é uma “Organização da Sociedade Civil de Interesse Público” (OSCIP), cujo objetivo é estimular a Gestão do Conhecimento no Brasil. Com esse fim, a instituição reúne profissionais e organizações em um grande fórum de discussão sobre os temas como: inovação e aprendizagem organizacional, colaboração e redes de valor, inteligência competitiva e de negócios, gestão de capital intelectual, economia criativa e trabalho, dentre outros de relevância para a Gestão do Conhecimento.

Pesquisadores como Ikujiro Nonaka (Japão), Tomas Davenport (EUA) e Karl Sveiby (Suécia) contribuíram com muitos dos conceitos que hoje são a base da Gestão do Conhecimento (Knowledge Management). O sistema ganhou grande impulso, a partir dos anos 90, com a crescente importância do conhecimento como recurso estratégico para a geração de valor agregado a produtos, serviços e processos. Hoje, sua disseminação em empresas brasileiras é fundamental para o desenvolvimento e para a competitividade do País. Entre os benefícios das boas práticas de Gestão do Conhecimento estão: ganhos de produtividade, maior capacidade de inovação, maior agilidade, eficiência, lucratividade, competitividade e sustentabilidade.

Atualmente a SBGC conta com doze unidades regionais nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Pernambuco, Santa Catarina, Pernambuco e no Distrito Federal. Entre as suas principais ações está a realização anual do Congresso Brasileiro de Gestão do Conhecimento (KM Brasil), o qual congrega os setores acadêmico, público, privado e terceiro setor em torno debates sobre diversos assuntos de interesse estratégico.



http://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=152823

quarta-feira, 9 de março de 2011

Bibliotecas digitais exigem formação profissional específica

Já imaginou conseguir ter acesso a todas as obras disponíveis na biblioteca da sua cidade com apenas um clique? Ou conseguir ler os livros didáticos da sua universidade no conforto da sua casa sem levá-los até lá? Coleções digitalizadas já existem no Brasil e tendem a crescer cada vez mais. As bibliotecas digitais tendem a substituir as prateleiras cheias de livros empoeirados. E é pensando nisso que bibliotecários e arquivistas têm buscado formação especializada em preservação digital. Elisângela Alves de Moura, 31 anos, trabalha há anos na biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Acostumada a catálogos de títulos escritos à mão em fichas de papel e a livros em prateleiras, a bibliotecária viu sua carreira sofrer uma mudança drástica. "Trabalho há anos em bibliotecas, mas agora estou tendo minha atuação direcionada para biblioteca digital. Quero aprender a técnica da informática e principalmente a parte de plataformas e protocolos digitais", diz a moradora de Natal. Buscando especialização em banco de dados online e enredos digitalizados, Elisângela já se inscreveu para o curso de extensão de Bibliotecas Digitais à Distância da PUC-Rio. "É hora de voltar para os estudos e me atualizar", conta. Para Ana Pavani, doutora em Engenharia Elétrica e coordenadora do curso da PUC-Rio, o mercado de coleções online é cada vez mais amplo no Brasil e tende a crescer nos próximos anos. "Vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico, e a chance de obras em papel se perderem e se deteriorarem é muito grande. Já existe mais de 1 milhão de imagens em banco digital da Biblioteca Nacional, e esse número tende a crescer", diz. E foi por isso que o Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Técnico Científico da PUC-Rio abriu o primeiro módulo do curso de extensão em Bibliotecas Digitais a Distância. O estudo ainda é novo no mercado e é voltado para bibliotecários, arquivistas, museólogos e profissionais da área de informação. Ana afirma que, além de preparar profissionais para o futuro das bibliotecas e de arquivos de museus e universidades, as aulas têm como objetivo estabelecer um diálogo entre os profissionais da área de digitalização e preservação digital, que por atuarem em uma área multidisciplinar muitas vezes não se compreendem. "Temos um módulo, por exemplo, que se chama Computadores Periféricos e Rede, que consiste em explicar a linguagem digital, de analistas de sistema, para pessoas que não a compreendem. Então, por exemplo, bibliotecárias que precisam lidar com a digitalização de obras e que não entendem linguagem tecnológica passarão a conhecê-la", explica, afirmando que bibliotecárias como Elizângela sairão capacitadas para atuar no meio virtual.

http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI4968718-EI8266,00-Bibliotecas+digitais+exigem+formacao+profissional+especifica.html

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Escolas têm mais internet que biblioteca, indica Censo

Enquanto o investimento feito pelo governo federal em informática possibilita que quase 95% dos alunos de ensino médio já estejam em escolas com computadores com acesso à internet, a oferta de laboratórios de ciências e bibliotecas para esses mesmos estudantes é bem menor: 57% e 73,2%, respectivamente. Os dados constam do Censo Escolar 2010, divulgado anteontem pelo Ministério da Educação. O sistema de internet nas escolas cresceu rapidamente por causa de uma obrigação contratual das operadoras de telefonia que, para renovar a concessão, tiveram de se comprometer a instalar a banda larga em todas as escolas do País. Segundo o ministério, no primeiro semestre de 2011, todas as 62 mil escolas públicas terão acesso à internet. Entretanto, os laboratórios de ciências e as bibliotecas - que são bem mais simples e baratos, mas dependem exclusivamente de recursos do MEC - andam a passos bem mais lentos. As escolas que atendem os anos iniciais do ensino fundamental, do 1.º ao 5.º ano, são as que apresentam mais problemas. Apenas 30,4% delas têm bibliotecas e 7,6%, laboratórios. Como existem muitas escolas rurais pequenas, a situação é um pouco melhor quando se leva em conta o número de alunos atendidos. Ainda assim, apenas 50% das crianças que estão aprendendo a ler e a gostar de livros são atendidas com bibliotecas. E 13,4% têm acesso a um laboratório de ciências. Nas séries subsequentes a situação melhora um pouco. Nos anos finais do ensino fundamental (do 6.º ao 9.º ano), quase 60% das escolas têm bibliotecas e elas atendem cerca de 65% dos estudantes. No ensino médio, 73,2% dos estudantes têm bibliotecas nas suas escolas. NENHUM COMENTÁRIOcomunicar erros nesta matéria COMENTAR Seu comentário:Seu nome:Seu e-mail: (não será exibido)Digite o texto da figura abaixo: Dificuldades para ver o código? Clique aqui.Seu comentário será analisado à luz dos artigos 138, 139 e 140 do código penal brasileiro, Lei de Imprensa da Constituição Federal. Comentários com ofensas, acusações sem provas e palavrões serão bloqueados.